sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Crise(s)

Ou funciona ou não funciona. É o que se pode dizer dos esforços mundiais para desfibrilhar as economias depois do ataque cardíaco do ano passado. Governos e autoridades monetárias estão a fazer tudo o que conseguem desde taxas de juro próximas do zero, programas de "criação de dinheiro" e défices fiscais enormes. Há no entanto alguns factos que vão tornar o próximo par de anos deveras interessantes segundo um relatório da Moody's recentemente publicado:
  • Muitos bancos, esses intermediários financeiros vitais para fornecer dinheiro à economia, prosseguem a luta contra o problema dos activos imobiliários que, mal avaliados e ilíquidos, continuam a pesar nos balanços. Junta-se agora a isso um problema de passivos. O relatório estima que o prazo médio de maturação da dívida bancária diminuiu de 7,6 anos para 4,2 anos. Trata-se de mais uma consequência dos anos exuberantes pré-crise em que os bancos escolheram financiar-se mais no curto prazo porque é mais barato, e porque não havia risco perceptível de falta de liquidez quando chegasse altura de refinanciar devido a um mercado de dívida que parecia na altura ilimitado. 
  • Os governos cometeram o mesmo pecado. O período médio de maturação da dívida pública americana caiu de 70 meses em 2000 para menos de 50 este ano. E... quase 50% da dívida (que já atinge valores recordes perto de 90% do PIB) vence... para o ano (lol).
  • Significa isto que os próximos 24 meses vão assistir à maior emissão de dívida na História. Governos, bancos e empresas, tudo a ir ao mercado de dívida como nunca foram e ao mesmo tempo. Ora esperemos, e aqui é mesmo esperar, que a procura seja fértil. Muita boa gente diz que, com estas taxas de juro de saldo e uma maré (que ainda é) deflacionária e de desalavancagem, o pote não é suficientemente fundo. Terá que o ser ou com taxas mais altas ou com mais emissão de moeda.  E com taxas mais altas, o jogo muda completamente porque muito boas empresas e países (essas empresas gigantes) podem não conseguir ou financiar-se ou remunerar a sua dívida causando a correspondente quebra de confiança que provou ser tão catastrófica na semana pós Lehman. Há já muita gente nervosa com isto (e outros factores), com a recente subida do ouro como exemplo... Mais pormenores aqui.
Enfim... os próximos anos vão ser sem dúvida interessantes. Algo de que falaremos aos nossos netos. Esperemos que corra tudo bem mas há alguma sensação de que há demasiadas coisas que não podem correr mal. Como um barco em que já há poucos dedos para tapar os buracos, o barco do papel-moeda...

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