terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Above and Beyond

Por estes dias a NASA voltou a adiar o lançamento do Atlantis, é já a terceira vez que sucede e o novo dia ficou definido para 7 de Fevereiro, quase dois meses após a data original. O problema técnico no tanque de combustível liquido reincidiu e os engenheiros decidiram-se agora pela substituição completa das peças defeituosas.

A NASA está sob pressão para completar a Estação Espacial Internacional (ISS) até 2010, data em que ficou definido que os três Space Shuttles seriam reformados, e a natural preocupação com a segurança não parece estar a ser compatível com o calendário de lançamentos talvez excessivamente ambicioso. A agência espera voltar ao seu calendário previsto a meio de 2008 mas a pressão na frota de mais de 20 anos de idade deixa adivinhar outras quebras nas datas de vôo previstas.

A ISS fotografada pelo Discovery em Novembro passado:

Apesar de ser uma peça aeronáutica que segundo os padrões actuais está cara e obsoleta, com mais cerca de 120 lançamentos desde 1986 e com apenas dois fracassos o programa pode saldar-se como um sucesso. A versatilidade do Space Shuttle permitiu colocar e servir órbitas não possíveis para outros veículos e manteve uma presença humana sólida no espaço, ao mesmo tempo que se tornou um símbolo da liderança tecnológica dos Estados Unidos para todo o mundo.

O futuro do vôo espacial tripulado (civil) é dúbio. A China entrou em palco com o seu primeiro vôo em órbita baixa com um astronauta (ou taikonauta como lhe chamam) mas está ainda a léguas dos EUA e Rússia no que toca à experiência e rotina destas andanças. A Rússia não parece interessada em investir além do seu ultra fiável mas pouco versátil Soyuz.

Os Estados Unidos por seu lado estão já a trabalhar no seu próximo veiculo, de nome Orion, que representa um pouco o regresso ao programa Apollo e pretende ser um nave espacial versátil que possibilite servir de ponto de partida para a estratégia Bush de voltar à Lua até 2020 e Marte após isso. Em paralelo está a decorrer também o projecto Ares, que vai desenvolver o lançador para o Orion e que volta também à tradição do Saturno V da década de 60. Em conjunto o programa denomina-se Constellation e o primeiro vôo está previsto para 2014.

Modelo do que será a fase inicial do Constellation:
A estratégia Bush no entanto vale o que vale e a fortuna da NASA está mais dependente de quem for eleito para começar em 2009. Barack Obama parece o menos entusiasta dos candidatos ao ter anunciado a intenção de desviar fundos da NASA para programas sociais, Hillary Clinton revelou ser por oposição a candidata mais entusiasta com uma estratégia de presença humana "robusta" no espaço incluindo apoio amplo ao programa Constellation e aumento do investimento em áreas associadas de I&D aeronáutica, ciências e robótica. Do lado republicano assiste-se a um entusiasmo moderado com declarações espontâneas de apoio mas pouco mais além disso.

Qualquer que seja o candidato eleito espera-se que haja o devido bom senso e, reconhecendo a prioridade de outras iniciativas, não seja no entanto abandonada a exploração humana do espaço. Além de alimentar a economia, bem estar social, etc... é importante também alimentar a alma!


Para os mais curiosos, é possível ver a olho nu a ISS e até o Space Shuttle (quando em missão) no céu. Basta uma bússola e consulta no site abaixo das datas (em hora local) e ângulos de visão em que o perfil orbital da estação passa no céu. Vale a pena! ;)

http://spaceflight.nasa.gov/realdata/sightings/cities/skywatch.cgi?country=Portugal